10 de maio de 2010

Poesia

      Se alguém quiser saber qual a importância da poesia na sociedade, por favor, olhe janela fora; mas não olhe como quem vê prédios e carros e lojas e pessoas, olhe como quem vê mais do que isso! Como quem se repugna do mesmo espírito monótono, como quem se enjoa de ver as mesmas pessoas a ler os mesmos jornaisque são só jornais e livros em que o único texto que não envolve vampiros, feiticeiros, minotauros ou mundos à parte é, talvez o breve texto dos agradecimentos, como quem vê gente a ir para o trabalho e a vir do trabalho num movimento mecânico induzido e aceite, como quem vê e se apercebe de uma realidade tão efêmera de sensações, faz falta sentir... Para lá da janela há uma sociedade sem verso, triste, mecanizada, espiritualmente morta. Quão mais fácil seria viajar pelo silêncio do vento e dançar por entre as folhas que caem sem vida, viajar e conhecer o Mundo, mas conhece-lo na sua forma mais pura, a sua realidade e o seu pormenor! a vida necessita sentir, saber que vive e ver-se saltar em cada criança, ver-se cantar pela meia idade, ver-se ao vento pelo campo fora, a flutuar na harmonia das ondas do mar e na terra e no céu e no sol! A vida quer-se ver delineada a preto no branco suave de uma folha de papel. 

     Escrever é deixar a vida contar uma história e ser essa história o resumir da memória; não se perca a sinestesia eterna que é deixar-nos levar pelo fluir da tinta que pinta um sorriso.

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